terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A "crise das livrarias"

Temos visto uma hecatombe no mundo livreiro que já apresentou muitos precedentes. Como eu não estava viva ou opinante nas épocas precedentes para me manifestar, só posso falar do que vejo agora, no meu momento. 

Essa suposta crise do livro, por exemplo, que deseja persuadir as pessoas a reivindicar que o Estado crie uma lei para impedir descontos de mais de 10% do preço de capa no primeiro ano de lançamento dos livros, modelo “que funciona na França culta”. É uma ideia que favoreceria muitos livreiros, mas a motivação, em primeiro lugar, está errada: a queda das gigantes Saraiva e Cultura. Falo o que todo o mundo razoável e sem rabo preso está falando: no tempo em que cresciam, as duas empresas louvavam o capitalismo criativo destruidor – seleção natural dos melhores adaptados às novas circunstâncias ambientais – e foram responsáveis pela ruína de muitas pequenas livrarias; agora que se veem despencando com dívidas de centenas de milhões, recorrem à mão pesada do Estado com o discurso emotivo do “vamos deixar de frieza, a cultura não pode ficar sob os ventos do livre mercado”. De esquerdistas e liberais espero alguma coerência. Como nunca me entregam essa coisa trabalhosa, vivo a lhes descer o sarrafo. Não desejo Estado máximo ou mínimo; aspiro a um Estado moderado que tenha maturidade para interferir onde é preciso. Meter o bedelho no curso do mercado livreiro porque Saraiva e Cultura fizeram uma péssima gestão não é, não deveria ser, tarefa do Estado. 

Em julho deste ano saiu na revista Época uma matéria interessante sobre a arquitetura das salas de concerto nos Estados Unidos. Salas enormes que viviam lotadas no passado viram a mudança do espírito coletivo levar embora parte do público, transformando locais bonitos em cenários deprimentes: tal como é deprimente estar em qualquer auditório de quinhentos assentos vendo somente cem deles ocupados. Se de certo modo isso pôde gerar um colóquio demorado sobre a crise dos espetáculos musicais clássicos, também foi preciso não forçar uma realidade inexistente ou se adoentar na nostalgia, ou seja, foi preciso buscar adaptar as salas. O novo conceito se moldou à modernidade sem, necessariamente, perder sua alma, e as salas começaram a ficar menores. Menores, puderam voltar a estar lotadas e fizeram do iminente fracasso um trunfo: as salas de concerto passaram a ser espaços “intimistas”. Não é uma lição que todos aprenderam, e compreendo a dor de ver que um negócio que funcionou às maravilhas de repente se torne datado, mas faria sentido que alguma lei fosse criada para salvar as enormes salas da roda dura do tempo? Acho que não, até que me convençam a mudar de ideia. 

Digo que todos devemos nos adaptar ao ritmo da música cacofônica posta pela sociedade massacrante diluída? Não digo, porque depende do caso. Vejam, não é porque o Brasil é inculto – e que, aqui, mesmo aqueles que se consideram cultos raramente estejam lendo algo que preste, e que mesmo os mínimos que leem algo que preste não saibam bem o que fazer com o que leram – que o governo deve conjecturar “o povo está dado como está; se não quer ser instruído, quem somos nós, governantes metidos a paternalistas, para obrigar instrução?”. Há claro benefício coletivo e individual em fazer com que o povo se instrua, e um bom governo sabe como incentivar avanços educacionais. Não é oportunismo, corporativismo, benesse para os camaradas fazer com que o país melhore na educação. O mesmo não se diz de um pedido de medida provisória feito a Temer por duas empresas ávidas em barrar a figura que é o que elas, as duas empresas, queriam e tentaram ser: Amazon, o trator. (Há um rumor de que a Saraiva tentou prejudicar a entrada da Amazon no Brasil ameaçando represálias às editoras que fizessem contrato com o novo competidor.) Se antes apelavam ao capitalismo com soberba, na desgraça querem apelar à nossa sensibilidade. Escrevo também para dizer que não acredito justo que chamem de insensíveis os que não cedem a esse conveniente apelo. 

Pois bem, enquanto muitas salas de concerto dos Estados Unidos tiveram que adequar suas arquiteturas estonteantes para um público mudado, e fizeram dessa renovação um encanto, Saraiva e Cultura no Brasil aproveitaram uma onda meio boa para fazer uma gestão aloprada, impensada (ou pensada do jeito errado) e megalomaníaca. Abriram lojas enormes em ruas caras de São Paulo (e em shoppings caros), lojas que várias vezes funcionam mais como passagem do que como escopo. Visitando essas monstruosidades de proporções absurdas, os erros estão claros em poucas observações. Primeiro, vitrine e estantes quase parecem o estoque. Há mais de trezentos exemplares de um mesmo título de vários lançamentos montando figuras geométricas quaisquer em pontos da loja. O consumidor é para ser pego pela estética atordoante das construções enormes, dos blocos de pilhas de livros que nos fazem sentir miúdos. Deve funcionar em um ou outro local estratégico da cidade, mas como reprodução em quase todas as lojas me faz parecer uma tentativa de União Soviética, que, era certo, cairia. Segundo, esse modelo de “gigante espaço de convivência” não estimula compras, mas passeio. Uma loja não sobrevive com a quantidade de passos dos visitantes ou com o número de acessos de wi-fi. Ela precisa vender. No modelo soviético da Cultura e da Saraiva, todavia, os potenciais consumidores vão mais para passear do que para adquirir livros. A família média – com aquela cara de que não sabe o que fazer consigo mesma em seu universo dominado pelo tédio – está no shopping almoçando e depois resolve dar mais uma volta com as crianças, e aí vai lá na Cultura e na Saraiva dar uma olhada, sentar, e até ver TV (!). Sai com as mãos vazias ou quase: “tá bom, Enzo Gabriel, vamos levar o livro dos carros”. Os clientes estão livres naquele baita chão, soltos e sem tirar quase nada do bolso. Se fizessem uma enquete na saída com a única pergunta “o que você veio fazer em nossa loja hoje?”, bastariam duas alternativas: a) Dar uma volta; b) Comprar um livro. Pelo pouco que vi e pelo muito que ouço falar, o público está mais interessado na opção “a”. O custo-benefício de manter essas lojas titânicas, em síntese, é baixo. 

Não é só isso, claro. Além de as referidas empresas não terem se adaptado aos novos tempos no mundo físico, não se adaptaram no mundo virtual. Tanto o site da Cultura quanto o da Saraiva são tenebrosos. Esperem, estou sendo rude. O site da Cultura é muito ruim. O site da Saraiva é que é tenebroso. Houve uma época em que eu aproveitava muito as promoções de desconto progressivo no site da Saraiva – quase o único momento em que era vantajoso comprar livros lá, pois sem promoções os preços eram salgados –, até que fizeram uma modificação na página para torná-la mais palatável ao gosto de quem a visitava em dispositivos móveis. Ocorre que mesmo a versão para computadores, a “versão clássica”, ficou parecendo para dispositivos móveis, e não foi bom para senhoras atrasadas em tecnologia, como eu, que faziam o acesso em computadores. Há mais: o site se tornou lento, travava, e a seção “características” – que mostrava dimensões do livro, número de páginas, etc. – não funcionava. Não foi uma semana sem funcionar – desculpável –, foram meses e meses. Hoje fizeram essa seção voltar, mas alguns livros ainda estão sem o número de páginas. Há o peso do livro, mas não há o número de páginas. Quero conhecer quem são essas pessoas pitorescas, leitoras minuciosas, que não se importam com o número de páginas dos livros e em vez disso se interessam em saber se pesam 0.502Kg ou 0.537Kg. “Vale pagar R$58 por 0.321Kg?” Eu sempre me considerei de outro planeta, mas com estudos avançados sobre este para o qual migrei, a Terra, portanto penso dizer com alguma propriedade que o número de páginas é uma informação relevante enquanto o peso é relevante quase nada. “O que está lendo?” “Um livro de meio quilo.” Quem montava a tabela com informações específicas sobre um livro específico era uma pessoa que lia livros (fora os que foi obrigada na escola e na faculdade)? Tenho dúvidas. 

Alguns estudos de usuários de bibliotecas concluíram que eles preferem uma excelente usabilidade a um incrível conteúdo. Trocando em algo mais ao alcance de todos – gosto de me fazer entender quando falo de variedades neste blog –, isso significa que não adianta uma biblioteca ter um acervo, físico ou digital, sensacional se o sistema for de difícil uso. Interesso-me por isso porque o estudo de usuários é das áreas mais cativantes da Biblioteconomia – “biblioterapia” é das áreas mais jecas, uma agonia, dá vontade de acordar só no final da disciplina para se jogar numa piscina (infantil, não sei nadar) comemorando abrindo champanhe –, e como usuária de bibliotecas desde que comecei a ler concordo gravemente com essa conclusão, que vale também para o velho sistema de fichas. Isso não deveria servir só para aprimoramento de bibliotecas, mas de livrarias, pois há alguma simetria aqui. Estou disposta a aprender a usar um sistema de busca, a encontrar sentido no modo como funciona o site de uma biblioteca ou livraria. Mas se para chegar aonde quero preciso atravessar um rio, pegar uma trilha, subir uma montanha, escalar rochas, passar para o outro lado me equilibrando numa corda (sóbria), voar de asa-delta (que funciona mal), lutar contra índios que nunca viram uma pessoa branca, fazer fogo com gravetos à espera de um helicóptero de resgate – uau, vou procurar outro site, ou, pior, desestimulada, acabarei acomodada e esquecida na minha ignorância sem o conhecimento que estava buscando. É a nova televisão que o idoso não consegue aprender a usar; então desiste, enfastiado, e prefere ficar vendo a televisão antiga. Com isso quero dizer que não deixei de fazer compras na Saraiva só porque a Amazon costuma ter preços melhores, mas porque seu site é inóspito, repulsivo àqueles que gostam de praticidade. Sua horrenda usabilidade afasta não só os que ficam conscientemente irritados apontando os erros com precisão (meu caso), mas também aqueles que inconscientemente percebem algo ruim que não conseguem explicar. “Por que nunca mais fez compras na página da Saraiva?” “É verdade, não fiz, nem sei o porquê.” Eu sei, seu inconsciente sabe: porque o site não é hospitaleiro. 


Nunca tive uma livraria para chamar de minha, apenas sebos. (Acalmem-se as pessoas feias que leem este blog dando bufadas e revirando os olhinhos porque acham que me desprezam mas na verdade estão apaixonadas por mim: não iniciarei outra conversa sobre minha pretérita pobreza. Mas já fiquem com o aviso de que um dia haverá uma postagem só sobre ela, a pobreza, que me ensinou tanto e rendeu histórias.) Os clamores que as classes médias paulistana e carioca fazem a respeito da morte de renomadas pequenas livrarias não têm tanto apelo sentimental para mim, e quero até me desculpar por confessar uma certa ausência de empatia. A primeira livraria tradicional que vi morrer e teorizei a respeito foi a Livraria Alemã, de Blumenau, há aproximadamente dez anos, e também não me chateei tanto porque meu relacionamento com ela era baseado nas sentenças “só os ricos vão lá comprar livros, e ainda sentam para tomar cafezinho”, “quem não estiver bem-vestido não é bem tratado” e “meus pais foram uma vez comprar uma apostila para mim e nunca mais voltaram”. A livraria fez sentido enquanto era quase solitária em Blumenau, mas depois começaram a surgir outras, e o advento das compras pela internet ajudou a miná-la (suponho). Minha experiência com compra de livros foi de três fases: 1. Só sebos; 2. Livros de bolso na BluLivro; 3. Aquisição pela internet. Há gosto para tudo, esse clichê, e que bonito que existam pessoas cativadas por livrarias pequeninas que frequentam desde sempre, mas hoje quase só compro livros pela internet, e acho isso maravilhoso. Não gosto de arrogância desmedida e grosseira, mas também abomino fingir humildade, então lá vai: nas poucas vezes que entrei em livrarias, os vendedores não sabiam comentar coisas relevantes sobre os livros de que gosto. Nada de “vejo que você está com essa pérola, sabe a história por trás dela naquele ano de 1793, Inglaterra?” ou “esse clássico é imperdível, e lá pelas tantas o protagonista cita essa obra aqui, ó, que você pode querer levar quando terminar o livro”. São coisas que mais constato do que critico. Com o salário baixo de vendedor, as exaustivas 44h semanais de trabalho e o desapreço por livros no Brasil, eu seria uma aberração empolada se quisesse que eles tivessem formação literária. Ademais, se é para se especializarem em algo, especializam-se nos livros do instante, que é o que a maioria dos clientes procura nas lojas – são pragmáticos. Que estranho, então, eu me imaginar saindo de casa para visitar uma livraria com preços caros e vendedores que não têm “atendimento personalizado” a me oferecer. Prefiro fazer minhas compras neste simpático notebook que tantas necessidades supre. 

Ainda assim – sem conseguir me colocar plenamente nos sapatos de quem chora a morte de algumas livrarias – acho triste que fechem. Na verdade acho triste ver fechar qualquer coisa que já foi feliz, animada, mesmo que eu não tenha vivido o auge do estabelecimento. Ginásios abandonados me deprimem um pouco, bem como restaurantes que representaram qualquer coisa que não apreciei, mas outros apreciaram em dada época. É uma bobagem, pensando bem; às vezes quem viveu não sente nostalgia alguma, e fico ali “puxa, é uma pena, faziam festas nesse salão”. Mas se muitas das coisas que amamos hoje como nossas desde sempre na verdade já foram “as novidades que tiraram o emprego de quem trabalhava com a versão anterior”, por que acharíamos que não apareceriam mais objetos, lugares, comportamentos novos que tomariam o lugar de algo que vivemos no modo “transição”? Fui resistente a trocar de celular, mas troquei, e preciso admitir que o novo tem funcionalidades condizentes com o tempo em que vivo, no qual pegar um Uber é mais confortável e vantajoso do que um táxi. Não entrei na alienação “celular sempre comigo, fazer refeições no celular, visitar amigos e ficar no celular” – danoso, danoso, danoso –, mas me adaptei e reconheço as vantagens. Algumas marcas de celulares antigos não se adaptaram para fazer smartphones, lamentável estagnação delas caso dependessem disso para ter uma boa vida, mas a evolução acontece queiramos ou não. Há situações e comportamentos que eu não queria que mudassem, mas que força tenho para impedir? No meu mundo ideal – inverno sem neve oito meses por ano, quatro meses para outono e primavera; veganismo; ateísmo; muitas árvores e flores pelas ruas; controle de natalidade severo; feministas sendo cegadas por aulas obrigatórias sobre ciência, etc. – haveria uma lei que impedisse pais bananas que não têm autoridade sobre seus filhos escandalosos/chatíssimos de ficar em locais públicos fechados, como aeroportos, aviões, consultórios médicos. Só posso sonhar. Não vou nem sugerir que legisladores debatam meu absurdo particular. 

Apesar da crise das livrarias – que não é uma “crise do livro repentina”, como alguns tentaram fazer pegar, pois “crise do livro” o Brasil vive há tanto tempo que nem chamamos de crise porque é uma constante –, ainda há algumas que se mantêm graças a serviços personalizados (geralmente quando o dono é leitor e gosta de atender o público que vem à sua lojinha), promoções e adaptação. Ainda há livrarias abrindo e está crescendo o mercado das editoras alternativas e dos “clubes de livros”, modelo revivido que mostra que algumas coisas passam e anos depois voltam. Com alguma organização e conhecimento é possível não matar todo o mercado livreiro tradicional e fazer pequenas livrarias terem seu lugar mesmo numa seara que a Amazon tenta dominar. Feiras, parcerias e eventos em livrarias são propostas que convidam as pessoas a apreciar o espaço, que, espero, deverá ser como boa parte das salas de concerto de Nova York têm se tornado: intimistas, aconchegantes, para quem está ali não por passagem, mas com um objetivo certo. É o tipo de negócio que a Amazon não consegue entregar. É o tipo de negócio que a Cultura e a Saraiva entregavam pouco. Lugar para empreender bem há para muitos. Quem perde o posto porque não evoluiu ou não soube mais gerir as contas não deve ter o mimo de ganhar uma lei para lhe favorecer enquanto o consumidor paga a conta do seu atraso. Ao mercado o que é do mercado. Ao Estado o que é do Estado. 

*** 

NOTAS 

1. É verdade que a França é muito mais culta que o Brasil. Nem por isso é um país culto como um adjetivo completo que fala de uma quase unanimidade. Além de boa parte da população ser inculta (consideremos parar de avaliar um país inteiro por suas capitais), parte da parte que se considera culta atua para fazer com que livros sejam como bolsas Louis Vuitton: acessórios galantes que são adquiridos mais pelo esnobismo e pelo simbolismo fashion do que pelo fim estético/cultural encerrado neles mesmos. E não é demais dizer que há ainda uma certa outra parte da parte culta que faz palavrório charlatão – floreios, espirais, rococó estilístico – e transforma o incompreendido voluntário em algo para ser louvado como se fosse de um patamar dos deuses, de entendimento somente para reis. Geralmente – não escrevi “sempre” – é lixo. Às vezes dá para encontrar algo bom e reciclar, mas vale mesmo a pena revirar o lixo todo para achar um chaveiro minúsculo? Só se você tiver muito tempo disponível, como o amado Wall-E. 

2. Recomendo músicas ótimas de gêneros variados nas postagens. Como conseguem se aguentar não tendo uma caixa de comentários para elogiar essas diversas músicas ótimas? Ficam angustiados? Nunca saberei. 

3. Isabelle Antena é uma cantora francesa que se notabilizou por fazer bossa nova eletrônica, jazztrônica (nu jazz) e pop eletrônico. Além da música que encabeça esta postagem, recomendo sua versão meio sombria de “Garota de Ipanema”, “Boy from Ipanema”, com o grupo Antena, e a música “Be pop”

4. Não tenho nenhum tipo de ódio à Saraiva ou à Cultura. São livrarias históricas e gostaria que se reinventassem (palavra desagradável, mas deixo-a aí desde que com este desdém). E que se saírem do buraco, aprendam a não deixar a dívida ficar em 200 milhões de reais para começar a se mexer. 

5. Uma pesquisa de preços para os mesmíssimos produtos. Digamos que hoje, primeiro dia de 2019, eu queira comprar esses cinco livros: Dez de dezembro, George Saunders; Manual da faxineira, Lucia Berlin; Bússola, Mathias Enard; 99 filmes clássicos para apressadinhos, Henrik Lange; e Os manuscritos do mar Morto, Edmund Wilson. Escolhi ao acaso (aos meus poucos amigos que sempre me dão presentes errados ou repetidos, alerto que já tenho todos esses livros), pesquisei os preços das mesmas edições na Amazon e na Saraiva. Os preços encontrados seguem, respectivamente: 

Amazon: 27,99 – 47,53 – 57,43 – 22,22 – 23,90 
Saraiva: 49,90 – 67,90 – 79,90 – 42,90 – 32,90 

A compra na Amazon sairia por R$179,07. A compra na Saraiva sairia por R$273,50. Quase cem reais a mais. Não é como comparar preço entre uma geleia industrializada e uma geleia artesanal feita pela vovó que colhe morangos silvestres num quintal afastado em Estocolmo. São os mesmos produtos comprados na mesma modalidade virtual. Quem está disposto a rasgar dinheiro desse jeito é porque está mal informado – e compra na caríssima Saraiva justamente por falta de informação – ou porque tem um comportamento altruísta nonsense que precisa ser investigado pelo Dr. House. De minha parte, acho absurdo rasgar dinheiro que provém da venda do meu tempo livre.

6. Nem tudo são flores na página virtual da Amazon. A interface para dispositivos móveis não mostra o número de páginas dos livros no formato capa comum (somente na versão para Kindle), o que faz valer todo meu protesto lá de cima sobre o mesmo problema em alguns títulos no site da Saraiva: quem é que faz uma tabela com informações sobre livros e acha irrelevante colocar o número de páginas, mas acha importante o peso? Já fiz uma reclamação, não sei quando será atendida. Às vezes boas reclamações demoram a chegar aos ouvidos de quem toma as decisões quando a empresa é muito numerosa de funcionários. 

7. Li sobre protestos de trabalhadores da Amazon em alguns países europeus exigindo melhores condições de trabalho. Se as condições são de ruins a degradantes, estão certos em reivindicar por tratamento mais digno, e não vejo problema em um aumento proporcional no preço de todos os produtos para cobrir esses direitos (se é que é necessário aumentar o preço de todos os produtos para isso, já que Bezos é o homem mais rico do mundo). Enquanto Bolsonaro e seus serviçais “liberais” (tragam uma caminhonete de aspas, por favor) não mexerem na CLT, trabalhadores da Amazon daqui podem recorrer à justiça para reclamar direitos não conferidos, ou, não se tratando de ferimento à CLT, fazer protestos como os trabalhadores alemães e espanhóis. Mas se ainda assim quem lê é um autêntico esquerdista, ou rigoroso com a melhor condição possível para trabalhadores, que não gosta desse vaivém da gigante online, viva!, há inúmeras pequenas livrarias desejosas de tê-lo como cliente. Esquerdismo bonito é isso: não apenas papo furado para posar de orador galã vermelho, não apenas compartilhadas de indignações nas redes sociais, não apenas um patético e débil “Lula Livre” – é colocar a mão no bolso (ei, no próprio bolso!) para fazer jus a seus princípios.